Temos que ser fortes para conseguirmos viver.

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Li que as mulheres têm que ser fortes para sobreviver, mas prefiro dizer que as mulheres têm que ser fortes para conseguirem viver. A sociedade moldou-nos e isso é um facto, não há discussão possível.

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Li que as mulheres têm que ser fortes para sobreviver, mas prefiro dizer que as mulheres têm que ser fortes para conseguirem viver. A sociedade moldou-nos e isso é um facto, não há discussão possível. 

Ninguém, em nenhum momento, nos ensina a dizer não (não quero, não posso, não vou, não me apetece, não gosto, não aceito, não permito, não, não é não) e ninguém preparou a sociedade para ouvir o não de uma mulher. Vocês acreditam que quando dizemos “não quero” somos mal agradecidas, temos a mania, temos o “rei na barriga”, achamo-nos boas e superiores ao outro (ao que ouviu e não aceitou), não pensamos nos outros, só pensamos em nós mesmas e no nosso umbigo.

Minto? Se achas que minto dá-me uma prova de que é mentira, se a prova for, “ai eu aceito um não de uma mulher” não é válida porque não és a regra, se olhares à tua volta entendes que és a exceção. 

Saio do carro, estou de vestido (o comprimento fica ao teu critério), de saltos altos (uma sandália básica mas com aquele salto cheio de detalhes), estou a usar óculos de sol escuros (modelo da prada, mas comprados na primark), tenho uma pequena mala (cabe o telemóvel e pouco mais), estava maquilhada (aquele básico, estou mas não parece), de repente oiço algo. Saí do carro numa zona cheia de prédios em construção, ouvi piropos ao longe, de repente já só queria vestir um casaco, pegar numas sapatilhas e caminhar camuflada. “Estás a exagerar!!” Estou? Estava sozinha, não conhecia bem a zona, mas era uma cidade cheia de movimento. “Temos que ser fortes para conseguirmos viver” e eis o exemplo do desconforto gerado pela sociedade. Não conheço as pessoas escondidas atrás de vigas e tetos falsos, por isso não tenho que aceitar que gritem e me façam sentir desconfortável enquanto caminho, às tantas tinha medo de tropeçar e cair e de voltar para o carro, pior que isso é deixar de me sentir confortável. Provavelmente não volto a vestir aquele vestido, nem a calçar os meus sapatos preferidos. O problema sou eu? Não! O problema é desta sociedade que decide comentar e opinar sobre algo e sobre alguém que não conhece.

“Não quero ser mãe”, às tantas isto é uma ofensa para as mulheres e não uma decisão plausível de uma de nós (a que vai engravidar e a que vai cuidar de um ser humano totalmente dependente). Os comentadores de bancada começam com “tantas mulheres que querem e não conseguem” e terminam em “mulher tem que ser mãe e cuidadora”. Não podemos decidir, não podemos escolher o nosso futuro, não podemos tomar uma decisão hoje, sem magoar terceiros, pessoas que nem entram na equação. 

Não digam que as pessoas são livres de fazerem e dizerem aquilo que querem, porque a tua liberdade vai até onde começa a do outro, e se me magoa não tenho que ouvir (também sou livre para não ouvir e para não me importar com a tua opinião).

A minha avó diz que as mulheres têm que ficar em casa, não podem sair à noite, “a noite é para os homens e para as galdérias”. Comentário desnecessário e bastante atual, já que agora “somos piores que eles”. Não sejam hipócritas, agora somos livres. Se a minha avó tivesse a minha liberdade ia ser pior que eu, ela já ia a festas, foi assim que conheceu o meu avô, confessou-me. Já lhe disse que não ando à noite, vou e venho de dia, chateou-se mais, mas pelo menos tomei o pequeno almoço antes de me deitar, diz ela que estou magra tenho que me alimentar (enfim, coisas de avós).

A sociedade está representada naqueles que vivem a vida, nos que vivem a vida dos outros, nos que acham que vivem e sabem a vida dos outros, nos que comentam a vida dos outros porque são dotados de toda a sabedoria e verdade e nos que contam a vida, que acham saber, dos outros. 

Vai às redes socais, nessa amostra tens tudo isto representado e exposto em comentários e likes. Publicar fotos em biquíni é um atrevimento, mostrar o decote é ousadia demais, estar bem num pós-parto é photoshop e tirar fotos do dia a dia é básico. Alguém, em algum momento, se esqueceu que existe um botão para seguir e que o mesmo serve para deixar de seguir. “Estás a exagerar!!” Estou? (sorriso irônico) As redes sociais têm médicos, professores, conselheiros pagos para opinar coisa nenhuma e duendes que ajudam a mãe natureza a vigiar quem usa discos de algodão como desmaquilhante, certificados com diplomas do google. É um requisito importante aquando do envio do currículo. 

“Temos que ser fortes para conseguirmos viver”, pois o julgamento é a palavra de ordem da sociedade. Ser mulher é Engordar demais, emagrecer mais, pegar mal no bebé, der pão ao bebé (que pode engasgar), dar bolacha (que a pediatra aconselhou) à criança, ser desleixada, é viver um crime se não gostarmos de passar a ferro, arrumar a casa ou a cozinha. Ser mulher é ter que ser mãe, é trabalhar 12h por dia, é cuidar da família, aceitar e perdoar um homem, é estar em casa, é ter um “feitio” (opah estamos com TPM). 

Ser mulher é sobreviver, porque “temos que ser fortes se queremos viver”. 

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