Ensinam-nos várias experiências e pensadores que o agradecimento é algo a dar-se em vida. Nada nem ninguém dura para sempre, por isso há que não deixar nada por dizer.
Assim, com a imprensa inundar-nos de notícias sobre o Cardeal Tolentino de Mendonça e o seu novo desafio e grande desafio (que não lhe retiro o mérito) surge a oportunidade de refletir e não deixar nada por dizer a quem o antecede: um homem muito culto, simples, de sorriso fácil e gestos bondosos que hoje com a beleza dos seus 80 anos coloca-se na sombra da reflexão para permitir outros assumirem novos desafios.
Este homem, iniciou uma nova visão e cultura dentro do Pontifício Conselho de Cultura (que presidiu vários anos) e que nunca teve uma porta fechada, uma carta por responder ou, mais recentemente, um e-mail. Recebia todos. Dava a todos o belo toque das suas sábias palavras e transmitia as suas sábias reflexões de forma humana e simples.
Ensinou-nos, numa nova forma, que afinal rezamos quando não estamos a rezar por nada, mas também nos ensinou que devemos ter sempre presente a arte dos pequenos passos.
Refiro-me, claramente, ao Cardeal Gianfranco Ravasi, com quem me cruzei cedo. A quem tive o privilégio de colocar as minhas dúvidas e pedi conselhos. De quem recebi ensinamentos através de palavras sábias ditas com ternura. Foi, claramente, uma das maiores dádivas que um jovem que vive num mundo a correr a maratona da transformação podia receber: perceber que existe mais além dessa maratona, perceber que o silêncio é bom e tem um lugar importante na nossa vida, compreender que mais do que pedir o que desejamos é perferivel pedirmos para não perdermos aquilo que hoje temos.
Transformou o Conselho de Cultura num lugar onde não apenas corria sabedoria pelos corredores daquele número 5 da Via da Conciliação, mas também humanidade, palavras bondosas, uma capacidade olhar para o outro de uma forma humana muito próxima do olhar de Francisco.
Hoje, com a terna sabedoria dos seus 80 anos, resta-me dizer: obrigado pela sua dedicação à sua missão e encontraremo-nos em Roma.